segunda-feira, 29 de novembro de 2010

TERRA NATAL

Lenita Rocha Moreira


Minha Laguna!
Neste pequeno pedacinho de châo.
Aqui nasci, aqui vim para ficar.
Nas pequenas noites ,
Onde a lua se faz clarear.

Esta verde natureza
Expandindo sua beleza.
Caminhando a passos largos
Sem saber onde chegar.

Minha cidade,
Minha querida cidade,
És bela e hospitaleira.
Amparas o viandante
Que aqui vem parar.!

Protegida pela natureza
Nossos morros,nossas praias.
Nosso povo exuberante
Todo cheio de vigor,
Recebe o turista a todo instante.

Obrigado,minha cidade!
Pela tua capacidade
De lutar e de amar.


(Foto de Rodrigo Randow de Freitas)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

RIMAS FALSAS

Jacqueline Aisenman


Adoro as rimas falsas
que se instalam desesperadas
nos poemas sórdidos.
Ritos perdidos
esmeradas combinações
de escrita e fala.
Rimas que ensaiam
canto e dança
como bonequinhos
recortados de papel:
sem vida, marionetes
esquetes de situações
de tempestade e bonança
descombinando o
que deveriam, sensatamente
combinar.
Contando, sem explicações,
coisas que os sentimentos
se negariam a ser
e no entanto ali se esgueiram
e fazem reviver.
Transparência ou demência?
Rimas e suas falas
falsas rimas sem falas
nos versos bailando
palavras que calas.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Mandona

                                                      Maria de Fátima Barreto Michels


Almoçava, chegava ao portão
e berrava boca afora:
- Vamos jogar taco?
Determinada que só ela
nos seus nove anos!
Eram tardes inflamadas
de algazarra sol e o taco,
comendo solto, na rua tomada
Havia uns 5 meninos,
uma menina e ela
A mandona!
De repente os hormônios
batom, brincos, salto alto
e aquela lindeza de moça
Agora quando ela passa,
eles, na orfandade, sonham,
se acham e berram boca adentro:
- Confio no meu taco!

PÃO POR DEUS

                                                         Márcio José Rodrigues



 
Difíceis aqueles tempos nos campos da Madre e nos arredores da lagoa do Camacho.
Tropas imperiais ameaçavam os farrapos do General Canabarro, em retirada após a fragorosa derrota na heróica batalha naval na Barra da Laguna naquele 15 de novembro de 1839. A esquadra de Mariath impingira uma implacável derrocada à pequena frota farroupilha. O lendário Giuseppe Garibaldi perdera muitos amigos naquele local fatídico, mas nada fora tão dramático como a morte do inseparável João Grande, cortado ao meio com um certeiro tiro de canhão da poderosa artilharia da fragata " Bela Americana".
Na companhia de Anita, a quem levaria para sempre ligada ao seu próprio destino, cavalgava cabisbaixo. Por ele, ficariam nas cercanias para tentar a retomada da cidade, idéia não comungada pelo General, que pretendia um retorno rápido ao Rio Grande do Sul.
A tropa em andrajos seguia melancólica, um penoso caminho só suportado por heróis.
Acossados e sem mantimentos, com o quase nada de armas e munições que lhes restara, deixavam para trás o sonho efêmero de uma pátria livre em terras da província de Santa Catarina.
A romântica República Juliana não durara mais que uma quimera.
Embora fosse quase verão, já em novembro, o vento frio soprava rigoroso, do sul e açoitava sem piedade os corpos daqueles homens cansados e seminus, atormentados pela fome e pela melancolia. Um pouco à retaguarda, alguns cavaleiros solitários e esparsos, experientes e ligeiros, cobriam a retirada e marcavam o limite seguro entre os piquetes imperiais e os retirantes, observando os movimentos do inimigo.

Um guasca chamado Diogo, homem curtido na dura lida da estância e mais ainda pelas agru-ras da guerra, contornava uma duna alta não longe da praia quando, num repente, avistou a pouca distância um infante imperial desgarrado do seu grupo. Separava-os apenas um curto galope atravessando uma sanga de água estagnada deixada pelas chuvas de dias atrás, mas não tão perto para um arremesso de lança.
O soldado não parecia mais que um guri e pelo aspecto novo da farda azul, devia ser um desses recrutas sem posses que o exército arregimentava e mandava para o combate, sem muito treina-mento.
Ao deparar com a imagem repentina do cavaleiro, o rapaz assustado e só, sente um tremor percorrer-lhe toda a espinha e o coração disparar. Tão logo se refaz da primeira impressão de espanto, leva incontinenti a mão ao cão do fuzil e daí, quem sabe, dar voz de prisão ou mesmo atirar no desconhecido.
Mas, o inexperiente recruta não tinha vivência para avaliar o que poderiam juntos, aquele homem e seu cavalo. Numa fração de segundo, como se homem e animal fossem um só, o farrapo precipitou o corpo para o flanco escondendo-o totalmente da mira e já apontando a aguçada lança para o ataque, sob o pescoço da montaria. Rápido em sua reação, o magnífico e treinado corcel, ao mesmo tempo, arrancou impetuoso e arremeteu contra o jovem atropelando-o com uma violência inimaginável, prostrando-o atordoado ao chão.
Quando se recompôs e tentou levantar-se, era tarde demais. O gaúcho de pé à sua frente já lhe tinha a ponta afiada da lança alojada abaixo do queixo comprimindo-lhe a garganta. Com o mínimo esforço ele o transpassaria.
O pobre infante reconheceu sua condição de inferioridade e anteviu seu triste fim. Mais que medo, a tristeza e a decepção de acabar sua vida daquela forma humilhante, produzia-lhe uma repen-tina secura e um desagradável gosto na boca.
Não pediu clemência. Apenas elevou devagar a mão, mostrando a palma, como que pedindo um momento de vida.
Sob o olhar atento e os sentidos ainda mais aguçados do cavaleiro, retirou de dentro do casaco uma folha de papel e a apertou contra o peito.
Pensando tratar-se de uma importante mensagem, o farroupilha tomou-o num gesto rápido.
À noite no acampamento achegou-se à barraca dos oficiais.
- Comandante, o que tem escrito neste papel?
Garibaldi aproximou-o do nariz e aspirou, longa e suavemente, resquícios de um delicado perfume. Achegou-se mais à luz do lampião e leu o que nele estava escrito, com letras arredondadas letras de mulher:

“Ao meu estimado Diogo
Que parte nessa jornada
Pão-por-Deus manda pedir
Que volte para sua amada."

Calou por algum tempo como se o singelo poema ou sua fragrância o tivesse remetido a outro lugar, que não aquele desconfortável acampamento do Camacho.
Finalmente, dirigiu-se ao ansioso homem que se mantinha ereto, à sua frente:
- Diogo, caro mio, quem escreveu estes versos para ti? Isto é um " Pão por Deus", uma declaração que as moças açorianas costumam enviar aos seus amados. Eu também já recebi um desses, da minha Anita, disse sorrindo. Depois comentou mais sério:
- Que coisa esta guerra, caro mio! Então tu deixaste um "amore" na República Juliana?
- Não, meu comandante! Este papel eu tirei de um soldado imperial.
- Mas que destino! O imperial tinha o mesmo nome que tu!
- Comandante, pode ler de novo o escrito?
Garibaldi sorriu e o leu de novo pausadamente.
- Gracias, comandante!
O italiano estendeu-lhe o papel.
Diogo apanhou-o, tocou de leve a aba do chapéu e apenas balbuciou:
- Com sua licença!
Depois do leve gesto de cabeça do oficial, retirou-se para longe das fogueiras e ganhou a escuridão da noite. Fazia muito frio e o vento soprava forte. O céu estrelado, limpo, de um fundo azul quase negro destacava com forte contraste o brilho das estrelas. As "Boleadeiras" (Três Marias) em linha, lembravam Negrinho do Pastoreio apealando cavalos na estância de Deus.
Olhou na direção do sul, como que buscando o lugar de suas lembranças. No alto, o Cruzeiro refulgia soberano e como sua lança de combate, apontava para a querência onde também deixara a chorar sua chinoca...
Tentou lembrar os versos e eles vieram aos pedaços.
Estimado Diogo...
Pão por Deus...
Que volte para sua amada.
... que não sabia ler nem escrever, mas também lhe dizia coisas lindas assim, quando ele se mirava no fundo dos seus olhos escuros.
A solidão apertou ainda mais uma ansiedade ao mesmo tempo sentida e doce em seu coração. Naquele espaço majestoso e vasto, um poeta repentinamente acordado, que morava em seu peito rústico de campeiro, arrancou-lhe um pensamento. Não haveria momento, nem mais nenhum outro lugar no mundo, tão lindo e tão grandioso, para dizer alguma coisa ao Grande Estancieiro do Céu.
E assim, num gesto de reverência, posição perfilada de soldado, inclinou a cabeça e apertou o chapéu contra o peito, dirigindo-lhe uma prece entrecortada pela emoção:
- Patrão do Céu, hoje eu te dou gracias por não ter tirado a vida do soldado imperial.
Pois entonce, deixa que ele volte para sua amada!
E que eu também possa voltar para a minha!
Com o papel entre os dedos, pensou em levar consigo aqueles versos ao Rio Grande, mas havia decidido que não lhe pertenciam. Ergueu a mão sobre a cabeça e soltou-o na escuridão para que o vento o transportasse na direção da Laguna e lá encontrasse seu verdadeiro dono.

(Foto de Luis Santana)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ALGUMAS FOTOS DO LANÇAMENTO DO LIVRO PROSA E VERSO NA TERRA DE ANITA

O Grupo de Escritores Carrossel das Letras gostaria de agradecer a presença inestimável dos que vieram prestigiar o livro Prosa e Verso na Terra de Anita na noite de autógrafos do mesmo realizada no dia 05 de novembro último.
A literatura lagunense sorriu na noite e apesar da chuva e do vento fomos brindados com a presença de pessoas que apreciam a escrita e valorizam os talentos da terra.
Muito obrigado!




















quinta-feira, 4 de novembro de 2010

LANÇAMENTO HOJE!

O grupo de escritores Carrossel das Letras fará, nesta sexta-feira às 20h, dia 05 de novembro em Laguna, Santa Catarina, no Centro Cultural Santo Antonio dos Anjos, o lançamento de PROSA e VERSO na TERRA de ANITA . Nesta coletânea cada autor produziu, ao menos um texto, falando de personagem ou fato histórico, algo que remete especialmente à terra de Anita Garibaldi.
A obra é prefaciada pelo Dr. Norberto Ulysséa Ungaretti, presidente da Academia Catarinense de Letras .
A capa e as ilustrações são do artista plástico Arthur Cook.


Esta é a terceira coletânea lançada pelo grupo sendo que alguns autores têm publicações individualmente. O grupo Carrossel edita também a revista impressa BALAIO das LETRAS e colocou no ar neste mês o este blog. 
Com a admissão de três novos membros, os autores de Prosa e Verso na Terra de Anita são os seguintes: Dulce Claudino, Flávio Goulart Barreto, Jacqueline Aisenman, J.Machado, Lenita Rocha Moreira, Liane Morais, Manoel Liones Adriano, Márcio José Rodrigues, Ma. de Fátima B. Michels, Maria Heloísa Fernandes e Regina Ramos dos Santos.
(Ma. de Fátima B. Michels)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Retrato

J. Machado

Minha mãe é uma pessoa que gosta de se vestir bem.
Suas roupas são escolhidas com certa pompa.
Gosta do que é bonito.
Porém, o que seus olhos vêem de esplendoroso
É a beleza da simplicidade!
De tão simples que é minha mãe brilha!
Ela se veste muito bem!

Ela só quer comer o que há de melhor!
É exigente no paladar! Não é qualquer coisa que gosta!
Por vezes torce o nariz, mesmo estando à mesa.
Prefere peixe assado, pirão de caldo,
Rabada, chuchu no feijão, salada de alface,
Farofa de ovo frito... Minha mãe pede cada coisa!

Ama exageradamente, mas não se prende a ninguém.
Às vezes me incomoda, parece que é a favor da impunidade.
Quando lhe conto sobre um desafeto de um parente,
Ele entende minha tristeza! Ouve-me com os olhos,
Chora comigo, mas é uma péssima juíza.
Ela me abraça me beija, mas nada de sentença.
Somente o abraço caloroso, o beijo.
Minha mãe me bota em cada uma! Só me manda perdoar.

Minha mãe não serve para estilista!
Nunca vai ser uma cozinheira famosa, dessas da televisão.
Também nunca vai poder bater o martelo!
Porém, ela é o que existe de mais chic, o que nunca sai de moda!
Ela é o próprio sabor! Enche-me a boca só em vê-la!
Minha mãe é a própria luz!

(Os anjos levaram minha mãe Ruth pelas mãos, no amanhecer do dia 28 de outubro de 2010.)

Imagem de Frances Hodgkins