sábado, 23 de julho de 2011

180 anos da Imprensa Catarinense


Historiador Norberto Ulysséa Ungaretti é entrevistado por Fatima Barreto Michels (*)


                                                    
- Que significa fazer um trabalho sobre a vida do fundador da Imprensa Catarinense?

 Dr. Norberto – Para mim é uma realização pessoal porque há muitos anos trabalho nesse projeto. Nasci na casa de meus avós maternos, à rua Jerônimo Coelho, na Laguna. Fiz todo o curso primário, como à época se chamava, no velho Grupo Escolar “Jerônimo Coelho”, onde tive como primeira professora (e até ao segundo ano) minha mãe, profª Otília Ulysséa Ungaretti, que ali lecionou durante todo o longo exercício de seu magistério, assim como meu tio profº Romeu Ulysséa. Minha prima-irmã Elisabeth Ulysséa Arantes (Betinha) também ali lecionou. Ali estudaram meus quatro irmãos, sobrinhos, primos, centenas de parentes e amigos. São circunstâncias que me ligam afetivamente ao nome Jerônimo Coelho. Resolvi, por isso, há vários anos, intentar uma biografia dele, até por ser o lagunense mais ilustre. Também é uma homenagem que presto à minha terra.

- O senhor pertence a categoria dos historiadores genealogistas então,  nesta biografia,   a ênfase maior seriam as raízes familiares de Jerônimo Coelho?
 Dr. Norberto  Não. No primeiro capítulo há referências às origens familiares de Jerônimo Coelho, sim, mas apenas ali. E no curso do livro uma outra menção de parentes seus. Mas nada mais do que isto.

- Jerônimo Coelho foi militar e também o patrono da Maçonaria de Santa Catarina, um homem de atuação e talento pródigos. Qual  sua expectativa acerca do modo como este livro será recebido entre os intelectuais, os estudantes e o público em geral?
Dr. Norberto – Na verdade, não tenho nenhuma expectativa nem preocupação quanto a isto. O livro não terá repercussão fora de Santa Catarina porque Jerônimo Coelho não é um personagem nacional. Fora daqui ninguém o conhece, a não ser alguns estudiosos nos estados que, então Províncias, ele governou, ou seja, Pará e Rio Grande do Sul. A vida dele foi a de um exemplar político e servidor do Estado mas de padrão comum, e sem emoções, dessas que despertam o interesse das pessoas em torno dos personagens históricos. Em Santa Catarina, sim, poderá haver maior repercussão porque, na verdade, são tratados e desenvolvidos muitos temas que dizem respeito à história do nosso Estado, principalmente a propósito dos discursos de Jerônimo Coelho na Câmara dos Deputados, da política provincial (onde ele foi o maior líder no seu tempo), da história da fundação da imprensa em Santa Catarina e da Sociedade Patriótica Catarinense, entidade de larga atuação, que ele fundou e presidiu. Ainda assim, entretanto, será uma repercussão limitada, porque é pequeno, mesmo no universo dos leitores (que, por sua vez, já é também pequeno em relação à população letrada), o número dos que se interessam por obras do gênero.

- Há um fato inusitado que o tenha surpreendido durante as incursões dessa pesquisa?
 Dr. Norberto – Um fato que me surpreendeu, agradavelmente, foi saber que um lagunense, o dr. João Francisco Coelho, tio e protetor de Jerônimo, bacharelou-se em leis e em cânones (direito canônico) pela Universidade de Coimbra nos primeiros anos do século XIX. Já pensou o que significava, naquele tempo (duzentos anos!)  sair de Laguna para ir estudar na Universidade de Coimbra?  Este dr. João Francisco era tido pelos nossos historiadores  como médico. Minhas pesquisas, entretanto, demonstram outra coisa, revelando quais os cursos que seguiu na famosa Universidade portuguesa. Este esquecido lagunense foi o primeiro bacharel nascido em Laguna e um dos primeiros de Santa Catarina. Também tive agradáveis surpresas com os discursos de Jerônimo Coelho na Câmara dos Deputados. Não tinham sido estudados, até agora, com a profundidade em que os estudei. Sua narrativa sobre a República Catarinense (particularmente importante por ser contemporâneo dos fatos), seus discursos sobre colonização em Santa Catarina, sobre o carvão catarinense (muito antes do início de sua exploração), sobre assuntos militares, entre outros, revelam o homem culto e preparado que ele foi, além de incansável defensor dos interesses catarinenses.


- Há quanto tempo o senhor vem trabalhando na obra? 
  Dr. Norberto – Há muitos anos. Para você ter idéia, em 1976 foi publicado um livro comemorativo aos 300 anos de fundação de Laguna. O coordenador da publicação foi o notável historiador, ilustre lagunense e meu saudoso amigo Oswaldo Cabral (com toda justiça homenageado na denominação de uma das principais ruas de Laguna), o qual, na apresentação da obra, disse que ali não havia nada sobre Jerônimo Coelho porque disso eu me ocuparia, em livro que tinha em preparo... É claro que não trabalhei no livro durante todos esses anos. Afazeres profissionais, no período, desviaram-me da obra. Retomei o ritmo há quatro anos, inclusive contando com a colaboração de pessoas que, sob minha orientação, realizaram pesquisas em jornais do Rio de Janeiro (Biblioteca Nacional) e Porto Alegre, em caráter profissional, pagas por mim. Embora me tivesse sido até oferecido, não aceitei patrocínio de nenhuma instituição ou do Governo, pois assim não fiquei nem estou sujeito a qualquer tipo de cobrança. Quando o livro estiver pronto, sairá.

- Qual o título que o senhor deu ao livro? Quantos capítulos? Há uma previsão de data para o lançamento?
 Dr. Norberto – O título do livro será, provavelmente, “Jerônimo Coelho”, apenas isto. Ou então “Jerônimo Coelho, o catarinense mais ilustre do Império”. Ainda não me decidi. Tenho 14 capítulos escritos, com fartas notas de rodapé. Já poderia publicar o primeiro volume, com sobra de material para o segundo. Mas considerando que faltam para finalização da obra, segundo calculo, uns três ou quatro capítulos, acho que vou trabalhar nisto a fim de que possam ser publicados os dois volumes, ao mesmo tempo, no segundo semestre deste ano em que se comemora o 180º aniversário da fundação da imprensa catarinense e também da Maçonaria em Santa Catarina, ambas as fundações devidas a Jerônimo Coelho.

(*) Entrevista concedida  em maio de 2011  à Ma. de Fatima Barreto Michels para a revista Balaio das Letras/Grupo Carrossel
Não pode ser reproduzida sem a autorização da entrevistadora

quinta-feira, 21 de abril de 2011

QUANTO VALE UM SORRISO



Regina Ramos dos Santos
Véspera de domingo de Páscoa. A jovem caminha sem vontade rumo ao supermercado. Os últimos preparativos do feriado haviam determinado algumas compras. Na verdade, nada de importante.
Ela não gostava das datas consideradas “especiais”. Achava-as monótonas e interesseiras, porque, para ela, a essência de todas era apenas o apelo comercial. O significado religioso, infelizmente, há muito tempo fora deixado para trás.
Duas crianças sujas e maltrapilhas sentadas na calçada chamaram-lhe a atenção. Não deviam ter mais do que oito anos e, naquele momento, repartiam o pão que acabaram de ganhar.
A fome certamente conferia ao alimento divino sabor, porque não pareciam notar as pessoas que transitavam ao redor. Mas logo o pão acabou e elas voltaram a fixar os olhinhos vivos e brilhantes nos transeuntes, certamente à espera de mais donativos.
“Que vida!” – pensou a jovem. Infelizmente, aquelas crianças representavam parcela significativa da população brasileira. Ironicamente, habitantes de um país muito rico, mas que, assim mesmo, permitia que muitos dos seus filhos passassem fome e toda sorte de privações.
Mas que podia fazer? Grandes problemas sociais carecem de abrangentes políticas públicas. Portanto, eram responsabilidade do governo e não de simples mortais como ela. De repente, uma ideia mudou o rumo dos tristes pensamentos. Por que não pensara nisso antes?
Rapidamente, entrou no supermercado, comprou tudo o que precisava e algo mais. Como era de se esperar, o estabelecimento estava cheio, de modo que demorou a livrar-se da fila do caixa. Não via a hora de chegar à rua e reencontrar as crianças.
Os pequenos estranharam, quando ela parou e, sorrindo, ofereceu um ovo de Páscoa para cada um. Os olhinhos brilharam ainda mais, porque não esperavam por aquele presente. E ela sentiu-se ainda mais feliz, por saber-se responsável por toda aquela alegria.
Já havia se afastado um pouco, quando ouviu as crianças chamando-a:
- Moça! Moça!
Olhou para trás e viu que, a elas, haviam se juntado mais três. Sabia o que queriam e não as decepcionou.
- Já volto! – foi a resposta.
Retornou ao supermercado para comprar mais ovos. Desta vez, a multidão e a fila não a aborreceram.
Voltou a pensar na responsabilidade dos governantes. No entanto, o fato não isentava as pessoas em geral do dever de serem solidárias e humanas. Gestos despretensiosos como o seu certamente não mudariam a situação daquelas crianças, mas foram capazes de fazê-las sorrirem. E isso não tinha preço...
Concluiu que as oportunidades de fazer alguém feliz aparecem o tempo todo na nossa frente. Aprender a percebê-las e aproveitá-las só depende de nós. Neste caso, o maior beneficiário não é quem recebe o benefício, mas, seguramente, quem o proporciona. Quem pratica sabe. E, a partir de agora, ela também sabia.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

ESCREVA!

Jacqueline Aisenman

Não se preocupe com o pecado das letras e nem com a militar formação das frases. Escreva. Não busque os olhos críticos, tente encontrar os corações. Esqueça os títulos e as graduações, lembre do sentimento puro dos que muitas vezes nem são letrados. Escreva. Rime e brinque, crie, desconstrua, invente, seja poesia e faça poemas de vida. Escreva. Conte o seu dia, o momento do amigo, a saudade do pai. Escreva. Crie personagens, dê-lhes vida, conte histórias. Escreva. Mostre. O perigo não está em alguém não gostar do que você escreveu, nem no estilo, nem nos erros. O perigo está em você não deixar livre sua alma, está em se preocupar com o que os outros fazem, em pensar que existe melhor ou pior. Escreva. Seja você em cada linha, seja cada palavra, viva tudo o que escrever, seja na vida ou na imaginação. Viva. Escreva.

E deixe as críticas para os que não tem nada a dizer...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O PEDREIRO ESCRITOR




Maria de Fatima Barreto Michels

Muito atento ao seu trabalho, ele estava sempre lá. Fazendo o piso, assentando tijolos, colocando tubulações, reboco e revestimento cerâmico. Sem elevador, subíamos seis andares diariamente, acompanhando e fotografando a obra. Achei interessante a superfície daquele banco. Sobre aquele tosco banco o Manoel recortava com a  serra mármore, ou maquita como ele dizia, os pisos e azulejos nos tamanhos necessários.
A tábua que formava a parte do assento do banco estava a cada dia  com mais sulcos, linhas retas que se cruzavam. Ali também ficavam pequenas porções de massa que respingavam quando o pedreiro subia para fazer o emboço na parte mais alta da parede da churrasqueira. Comecei a clicar semanalmente o banco e o fazia em horários diversos para obter tons que variassem. Com alternadas posições do sol no bairro Mar Grosso, eu ficava observando a história que, numa  linguagem diferente, ia sendo escrita na madeira daquele banco.
Em outro continente, na cidade de Genebra, uma escritora também criava, digitando no computador, as suas linhas.
Antes de eu começar a observar a construção, outros homens já haviam trabalhado muito por ali, finalmente vieram o pintor, o carpinteiro, e o eletricista e todos eles continuaram a utilizar o banco.
Muitas pessoas trabalhavam e cada qual ia deixando seu autógrafo, naquele prédio. Lá da Suíça a Jacqueline convidava poetas e contistas, através da internet, para que juntos erguessem uma obra em forma de palavras. Um dia a escritora contratou a publicação dos textos de 38 brasileiros, dos quais entre ela uma dezena de lagunenses.
Eu e Isabella, estudante de design industrial, sugerimos fotos diversas para a capa do livro, mas para nossa surpresa, entre flores, céu e mar a editora escolheu justamente uma parte daquele assento de banco que reunia muitas marcas. Tais riscos, na imagem fotográfica, convergem para uma rachadura que há na tábua. A fresta forma uma linha que liga horizontalmente ou, pode-se dizer, na qual estão dependurados muitos dos sinais de uma especial semiótica da construção civil.
O livro se chama Varal Antológico,porque ele nasceu da revista virtual Varal do Brasil e trata-se de uma coletânea onde estão reunidos muitos autores. Fundamentada “numa relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado” poderíamos dizer que a fotografia, na capa do livro, conseguiu estender um metafórico varal. Um fio que começa com a escritora lá na Europa e vem até o pedreiro aqui no Brasil. Impossível aqui não me lembrar do filósofo e educador Paulo Freire:  “Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes.”
Diferentes meios e formas de expressão: na obra civil as ferramentas, na literatura as palavras. A foto da capa é o comprovante dos inúmeros operários que naquele banco nos ajudaram a estender o VARAL ANTOLÓGICO.
Quem não gosta de poesia? Quem não precisa de um varal?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O PARQUE DA CARIOCA

Dulce Claudino



A límpida água que jorra da fonte
Que encanta o turista e refresca o viandante
Numa manhã julhina desperta viçosa
Transparente, maculada, modesta e silenciosa
Aguardando a locução solene:
" A Fonte da Carioca é reinaugurada ".

Efusivos aplausos, fogos, descontração,
Sorrisos alegres enfatizam o desenlace da fita
Ao som musical da banda União dos Artistas
Nativa deste chão.

Recipientes acolhem a água cristalina
Refrescando os lábios ressecados pelo vento sul cortante
Que rasga os ares , levando consigo
As desalinhadas folhas num voo razante.

Os pés são firmados nas pedras ,que servem de fundo ao tablado
Olhando para o alto, o azul do céu, cede o lugar ao tom das folhas ,
Que forram o teto , cor verde cerrado.

As pessoas caminham sentindo o aroma das plantas silvestres,
Do ar despoluído, da seiva da terra.
Faceiras adentram ao âmago do parque,
Novo ponto turístico, harmonizado às belezas que Laguna encerra.

PARQUE DA CARIOCA, assim batizado
O recanto da felicidade, dos aromas, dos desejos...
Da água que une os enamorados , que afiança o príncipe encantado
Como dito popular, crê-se profetizado:
" Beber da água da Fonte da Carioca é eternizar o amor sonhado".

segunda-feira, 11 de abril de 2011

ESTRELAS

Márcio José Rodrigues 
 

 
Estrelas são meninos
A brincar nas alamedas do céu.
Estrelas- meninos
Imaculadas
Limpas
Puras 
Luminosas
Intocáveis
Inalcançáveis.


Quem te deu tanto poder,
Que podes tocar nossos meninos
Com tuas mãos sujas?
Tu que aprovas as leis
Para teu uso pessoal,
Tu  os corrompes em sua pureza
E deixas que os corrompam
Com tua negligência
Com tuas mentiras
Teu desprezo
Tua arrogância.

Semeias rancor nas searas
Onde antes só cresciam
Inocência, igualdade, paz.
Tu que inventaste estrelas
Negras...
Pardas...
brancas...
Semeias um ódio novo
E vais colher
Estrelas mortas
Nos campos do céu.

BEM ME QUER


Por J.Machado

A VIDA NOS OFERECE
FLORES,
SABORES,
AMORES,
A BELEZA DAS CORES.

QUANTO MAIS VIVEMOS,
MAIS QUEREMOS,
MAIS APRENDEMOS,
MAIS ARRISCAMOS.

DE QUE VALE A VIDA SEM
O RISCO DE AMAR,
DE APOSTAR,
DE PERDER OU GANHAR?

APOSTEMOS NA GRAÇA,
NA SORTE,
NO BEIJO NA PRAÇA.
NO MAL ME QUER
NO BEM ME QUER

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A FORÇA DOS VENTOS

Jacqueline Aisenman





Um vento que vem
do sul
do nordeste
do leste
um vento que vem
que balança os cabelos
que derruba os varais
que levanta ondas no mar...
um vento que vem
e refresca o calor dos dias
e atiça o humor mais calmo
e enfeitiça o ser que passa...
um vento que vem
que vai
que é frescor ou ventania
alivia ou vira furacão...
um vento, dois ventos, três ventos...
e uma barra sedenta se banhando no mar
e um mar sequioso se jogando na areia
e um farol alertando
o barco que vem
o pescador que se aventura...
vai lá
não vai
vai lá
não vai
vem cá...

(Foto de Maurício Drunn, Praia da Tereza)

domingo, 3 de abril de 2011

VARAL ANTOLÓGICO TEM PARTICIPAÇÃO DE MEMBROS DO CARROSSEL

O livro Varal Antológico, primeira coletânea impressa da Revista Varal do Brasil, contará com a participação de vários membros do Grupo Carrossel das Letras: Márcio José Rodrigues, Dulce Claudino, Maria de Fátima Barreto Michels, J. Machado, Flávio Goulart Barreto e Jacqueline Aisenman.
A capa, aqui estampada, tem arte de Isabella Sierra sobre foto de Fátima Michels.
O lançamento do livro será em Florianópolis na sexta-feira 13 de maio de 2011, às 19h30m na Livraria Catarinense do Shopping Beira-Mar.

sábado, 19 de março de 2011

Cruz e Sousa – (* 24 novembro 1861 + 19 março 1898)




FLOR DO MAR


És da origem do mar, vens do secreto,
do estranho mar espumaroso e frio
que põe rede de sonhos ao navio
e o deixa balouçar, na vaga, inquieto.
Possuis do mar o deslumbrante afeto,
as dormências nervosas e o sombrio
e torvo aspecto aterrador, bravio
das ondas no atro e proceloso aspecto.
Num fundo ideal de púrpuras e rosas
surges das águas mucilaginosas
como a lua entre a névoa dos espaços...
Trazes na carne o eflorescer das vinhas,
auroras, virgens músicas marinhas,
acres aromas de algas e sargaços...

sexta-feira, 11 de março de 2011

JACQUELINE


Márcio José Rodrigues

Este abraço é pelo seu aniversário hoje.
Carrega um desejo imenso de muitas felicidades, sucesso e como você gosta, paz.
Muita saúde e fertilidade criativa para esta literatura doce e ao mesmo tempo densa e forte com que você nos tem brindado todos os dias.
Temos uma dívida imensa para com você no incentivo de nossa literatura aqui em sua terra natal, a Laguna, que parece estar como uma fênix ressurgindo para a cultura.
Seja abençoada junto com sua querida família.
Mil beijos para você.

quinta-feira, 10 de março de 2011

À MULHER

Márcio José Rodrigues

A toda mulher da minha vida, 
desde minhas avós e minha mãe,
que me legaram seus genes benfazejos.
 Minha mãe que ficou só,
mas nos criou com luta e trabalho, carinho e colo,
exemplo e austeridade, mimos e beijos.
Minhas filhas e netas a quem repasso
com imensa honra o padrão das ancestrais.
Que me fizeram sentir como parceiro
de Deus no milagre da criação.
Minha aluna,
com quem convivi
 melhor fase de minha vida profissional
 de quem aprendi tantas lições sobre tantas coisas valiosas.
Minha amiga,
porque te tenho como um tesouro
que achei com muito empenho e sorte.
Tu, mulher,
que tens a mesma origem divina que eu,
 por seres tão igual a mim em dignidade,
direito, dever, liberdade, consciência e intelecto.
Por seres tão diferente de mim em dons,
em graça, beleza e corpo, curvas sensuais e hormônios,
raça onde fui encontrar minha companheira.
Por seres igual a mim e o oposto de mim.
Igualdade que me enche de orgulho,
diferença que eu adoro e faz colorir
a tela onde é pintada a minha vida.
Te amo todos os dias,
mas resolvi dizê-lo hoje, no dia internacional da mulher.


Imagem: Pintura de Marie-Denise Villers

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A VIAGEM

Dulce Claudino



CHOQUE ENTRE PUPILAS
NUM ESPELHO RETROVISOR
VEÍCULO EM MOVIMENTO
EUFORIA E TORMENTO
FLECHADA DO INVASOR.

CALADA DA NOITE
  ELA, A CARONEIRA,
  Ele, O CONDUTOR
  FUSÃO DESCOMPASSADA
      VERTIGENS, ARRITMIAS, PALPITAÇÕES...
A HORA ERA CHEGADA
ANINHAVA-SE O AMOR
NO ÂMAGO DOS CORAÇÕES.

LANÇAMENTO DO LIVRO TÃO LONGE, TÃO PERTO VOL. II

Aconteceu no dia 22 último, em Laguna, o lançamento do livro organizado por J. Machado (República dos Autores).

Fotos de Fátima Michels.














Autores no livro:
Flávio Goulart Barreto (Fpolis)

Marcio José Rodrigues (Laguna)

Vicência Jaguaribe (Fortaleza/CE)

Alexandre Bertotti Pessoa (Laguna)

Suyan de Melo   (Araranguá)

Dulce Claudino (Laguna)

Atanázio Mário F. Lameira (Laguna)

Zuleide de J. Coral (Laguna)

Jorge Coelho (Fpolis)

Maria Heloísa Fernandes (Laguna)

Clarice Villac (Campinas/SP)

Ruggiero Barretini (Fpolis)

Nôra Bela (Biguaçú)

Liane Alves Morais (Laguna)

Gustavo da Silva Machado (Laguna)

Jaqueline Aisenman (Genebra/Suíça)

Maria de Fátima Barreto Michels (Laguna)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

LANÇAMENTO: TÃO LONGE, TÃO PERTO VOLUME II

Dia 22 de fevereiro você não pode perder! Lançamento em Laguna do livro Tão Longe, Tão Perto volume II, do site República dos Autores (J. Machado).



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

AMAR É FAZER O BEM

Regina Ramos dos Santos




Uma frase bastaria para resumir a verdadeira essência de todas as religiões do planeta – “Amai-vos uns aos outros.” Muitos poderão pensar tratar-se de uma utopia ou até de algo impossível, pois não dá para imaginar sair pelas ruas amando todo mundo, do jeito que amamos as pessoas dos nossos círculos de convivência. Amar um inimigo então, nem pensar! Foi num livro espírita que aprendi o verdadeiro significado deste preceito cristão, onde “amar” significava “fazer o bem”. E tudo ficou claro como água... “Amai-vos uns aos outros...” é o mesmo que dizer “Fazei o bem uns aos outros.” Realmente, não dá pra sair pelas ruas distribuindo flores e dizendo a todos “eu te amo, eu te amo...” Isso não traria nada de útil a ninguém e o máximo que conseguiríamos seria uma internação numa ala psiquiátrica. Agora, sair pelas ruas fazendo o bem é algo muito diferente, pois as oportunidades surgem à nossa frente, a todo instante e em profusão. É o caso daquele colega de trabalho que está todo atrapalhado e que, mesmo não tendo nos solicitado, vamos até lá e damos uma ajudazinha... Daquele comentário maldoso que não levamos adiante... Do “não” que conseguimos dizer aos nossos filhos, por sabermos que “não” de pai é muito diferente de “não” da vida... Da liberdade que conseguimos dar aos nossos amores, para que não se tornem pássaros de asas cortadas que permanecem ao nosso lado, pelo simples fato de não poderem voar... Do trabalho voluntário em prol de uma causa que tanto faz trazer benefícios a milhares, como a uma única criatura... Fazer o bem também é não destruir a Natureza... Ver, nos animais e plantas, irmãos nossos que simplesmente habitam corpos diferentes e que, por isso, merecem o mesmo cuidado e respeito que reclamamos para nós... Não perder, jamais, a capacidade de nos indignarmos diante da injustiça, mesmo que, por causa disso, angariemos alguns dissabores para nós mesmos... É elogiar... Não criticar por criticar... Dar quantas chances formos capazes de dar àqueles que erraram, a começar por nós mesmos... Tirar o véu da prepotência que nos impede de enxergar todas as criaturas que estão à nossa volta... Tentar vencer nosso egoísmo... Não economizar nossos talentos para espalhar alegria e esperança... Valorizar a todos... Contribuir com a construção de um mundo melhor... Não fazer o mal... Servir sempre...

AMORITE

Maria Heloísa Fernandes

Taquicardia,
Calor intenso
Transpiração ofegante,
Coração arrítmico
Sudorese excessiva
Palidez!
Sintomas que podem indicar problemas de saúde, ocasionando principalmente distúrbios diretamente no coração. Mas não adianta tentar cura, pois mesmo os medicamentos de última geração não são suficientemente capazes de amenizar os transtornos ocasionados por tal patologia, que está relacionada com a profundidade dos seres humanos, com a alma. AMORITE, uma doença causada por um tipo de micro-organismo, sensatis profundies, do gênero das bactérias sensivelmente amáveis, que de acordo com os estudiosos causam uma septicemia, que é uma infecção generalizada por todo o organismo humano, prejudicando principalmente as funções cardíacas já logo no início da infecção. A luta tem sido constante entre os indivíduos acometidos, e de acordo com a Associação Brasileira de Cardiopatias (ABC), todos os esforços tem sido no intuito de fazer os indivíduos acometidos entenderem e aprenderem, como conviver com esta patologia, pois as atuações estão relacionadas com as condições psicológicas, ou seja, tudo que se relaciona com as relações emocionais das pessoas. De acordo ainda com estes estudiosos na área, não existe cura definitiva, somente tratamento paliativo. Portanto, o melhor mesmo é tentar conviver da melhor forma possível, com essa morbidade. As pessoas podem tentar não adquirir tal microorganismo, que desenvolve esta doença. Mas em muito dos casos a contaminação é inevitável. O contato é direto e se dá por aproximação dos seres humanos, principalmente quando dirigem e cruzam seus olhares. Aí, poderá ser fatal! Portanto quem estiver acessível, prestem bem atenção, muito cuidado no contato com pessoas portadoras. E para aqueles, que já se contaminaram somente o que resta mesmo é tentar conviver da melhor forma possível e buscar sempre atitudes para uma vida cada vez melhor entre os infectados.
O Ministério da Saúde adverte: É uma doença altamente transmissível e fatal!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

TRISTE SINA

Dulce Claudino

          Dona Corina entregou a alma a Deus, deixando como herança um falante papagaio à sua querida sobrinha Cleusa.
         - Credo, Onório, praguejava Cleusa. Ter que conviver com esse bicudo, já é um castigo.
         - Qual nada, mulher. Ele é falante e até canta um trecho do hino do Corinthians.
         - Não duvido? Nossa vizinha Selma vai ficar tiririca. Ela é botafoguense rachada.
         - Gorda! Gorda! Gorda!
         - Cala esta boca, bicudo !
          De nada adiantavam as ordens de Cleusa. Quanto mais berrava , mais o loro cantava:
          - Salve o Corinthians ... Gorda... O campeão... Gorda...
          - Miséria! Vou te matar, ameaçava  e o bicudo calava meio amedrontado.
           O tempo passou. A vizinha não suportando os insultos, mudou-se. O loro parou de cantar? Jamais. Parecia um CD que nunca arranhava. Até que numa manhã chuvosa Onório espantou-se ao ver o papagaio esticado na gaiola.
           - Cleusa, acorda, o bicudo morreu.
           - Maluqueceu marido ? Ontem, antes de dormir ainda escutei aquela canção que ele compôs pra mim.
           - Venha ver. Morreu babando o pobre!
            Cleusa nem olhou o pássaro, passou de fininho e pediu ao marido que o enterrasse no fundo do quintal. O sepultamento era uma tarefa que a aterrorizava, ainda mais o do bicudo cantor e praguejador.
             E o tempo que não para , trouxe a Cleusa umas dores lombares.
            -Onório, amanhã vou ao médico do SUS. Marquei consulta no postinho do PSF.
            - Fez bem, mulher. O Doutor Fagundes entende de mulheres. Ele apalpa, apalpa, até descobrir a doença. O compadre
             Juca comentou que a comadre voltou da consulta com umas manchas roxas, mas que ele acertou no remédio, ah! Acertou.
            - Mas comigo vai ser diferente! Vou logo pedindo pra bater uma chapa.
             A visita ao consultório foi só o tempo de fazer o Raio X e descobrir o motivo das dores.
            - Dona Cleusa , a senhora sofre de Osteofitose.
            - Nome bonito, Doutor ! É doença de gente rica, é?
            - Não . É doença dos humanos. Não tem classe social. É o famoso “Bico de Papagaio”.
            - Meu Deus! Eu sabia que a alma daquele bicudo vinha me perturbar. É maldição. Ele não foi pro céu dos passarinhos.
              Ele veio se vingar. Não me perdoou.
            - Acalme-se , Dona Cleusa! Vou prescrever a receita e a senhora vai ficar boa.
            - Não, Doutor! Tenho que pagar meu crime . O chumbinho que coloquei na comida do bicudo não era para matar. Era só um castigozinho e ele não resistiu.
              O médico educadamente pediu que Cleusa se acalmasse , pois estava atônito com a sua reação.
              Cleusa em prantos saiu devagarinho resmungando :
             - Puxa , bicudo ! Eu até gostava de você. Eu só odiava aquele gorda... gorda...gorda... Mas você foi malvado ! Por que não repousou sua alma no meu pé, por exemplo! Foi logo escolhendo o meu lombo. E, agora, como o Onório vai brincar de cavalinho comigo? Triste sina!


 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

TOALHAS DE RENDA

Márcio José Rodrigues





Toalhas de renda
de bilros, mistérios...
Abertas na praia.
Bordados etéreos,
À luz do luar.
Quem sabe se as águas
Escondem sereias,
Fascínios de dunas,
Espumas e areias,
De coisas de mar.

Tramóias de prata
Nas alvas esteiras.
Segredos guardados
De antigas rendeiras,
À luz do luar.
Antigas saudades
De antigos Açores,
Antigas lembranças,
De antigos amores...
Cantigas de mar.

Um vulto caminha
À beira da praia.
A espuma lhe borda
A fímbria da saia,
À luz do luar.
Lagunas, imagens...
Os passos de Anita....
Pegadas n’areia....
O vento medita
Histórias de mar.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O MAR

Texto de Regina Ramos dos Santos
com fotos de Maria de Fátima Barreto Michels


O mar é algo tão gradioso, tão majestoso, tão maravilhoso, que, ao pensar em escrever alguma coisa sobre ele, sinto-me como que um grão de areia...





MAR , MARÉ , MARESIA...

Dulce Claudino




Lua cheia no céu.
No mar, fluxos de serpentinas multicores
Adornam a orla espumante
Sobrepujando as ondas que beijam a areia
Num zumbido cantante.

Bem longe, acariciando o infinito
topo de uma embarcação toca de leve as teias douradas
E baila , valsando notas de um refrão
Sonorizado nas guitarras das ondas enluaradas.
Bem perto, o sonhador espelha-se
Na versão silenciosa de uma penetrante onda
Vasculha suas entranhas, encharcando-as   de transparentes bolhas suaves, gélidas
Molhando a alma na execução de sua ronda.

A escuridão domina no apagar das velas pelo sopro de uma negra nuvem
Afugenta-se o brilho das serpentinas multicores
Os pés do sonhador caminham sem rota, vagando sobre as ondas em ziguezague
As narinas aguçadas saboreiam os odores.

                        Mar , maré , maresia...
                        Um acalanto, que alimenta o sonho
                         Ao embalar a rede de quem dorme ao léu.

                                 Mar , maré , maresia...
                                 Doce seresta de quem vive em festa
                                  Por ter como berço o aconchego do enlace
                                  Entre MAR  e  CÉU.
                               


(Imagem: http://www.photos8.com/)

INDIGESTÃO DO MAR

Maria Heloísa Fernandes

A inquietação das ondas
Num balanço estonteante
Enauseavam o mar
Que  incessantemente
Vomitava aqueles sólidos
Impossíveis de digestão
Consequência do descaso do homem
Com o bem maior do universo: a Natureza!



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O PESO DO SIM

J. Machado

A lágrima dela molhava o sorriso
Ele parado, dividido em metades
A metade dele e dela que ia.
Jamais seria um todo, apenas saudades.

Aquela difícil decisão
Tomada de dor e tormento
Aquele momento, e enfim
Agora sabia, o não tinha o peso do sim.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O PESO DO SIM

Maria Heloísa Fernandes


Antes que deixasse sua vida, naquele momento de intensa dor, somente o que vinha a sua mente era que queria poder dizer um SIM, de  quero seu perdão, para todos os momentos em que estive ausente com você meu filho!


O GRANDE PRÊMIO

J. Machado

O dia estava abafado, e eu tentava tirar no violão “Corsário”, de João Bosco em lá menor.  “Meu coração tropical está o coberto de neve, mas...” Linda música, “um dia consigo tocá-la” - prometi a mim mesmo. Entretanto, fui interrompido por aquele barulho do celular, aquele quando chega mensagem, parece um monte de ferro caindo. Tchurrrummm! Tchurrrummm!  “Deve ser pra recarregar” pensei. Nada disso era uma mensagem que dizia assim: WEB RED GLOGO TORPEDO SHOW INF; SEU CELILAR FOI SORTEADO C/ 100. MIL REAIS. NA SUA RECARGA! LIGUE DO SEU (a marca do celular) PARA ESTE NÚMERO (final 64) SENHA 95690.



            Eu já sabia que se tratava de um trote, então também resolvi brincar. Liguei. Chamou três vezes.
- Promoções premiadas, boa tarde (muito alegre, vibrante.)
- Falo com quem? - perguntei.
- Meu nome é Mauro Ferraz de Albuquerque Antunes e pra sua segurança, nossa conversa está sendo gravada, qual é o seu nome?
- Meu nome é João (falei fingindo nervosismo)
- Seu João, o senhor sabe o que aconteceu com o Senhor?
- (bem ingênuo) Li a mensagem, mas não entendi nada.
- Seu João meu amigo, o senhor acaba de ganhar cem mil reais visse?
- Tá brincando?
- Sério seu João como o Senhor está se sentindo?
- (mais fingido ainda) Ai Meu Deus!  Não sei nem o que dizer!
- Digo mais Seu João, além dos 100 mil reais vem por aí outros prêmios: moto, carro e até casa meu rei! Pra isso basta o senhor participar da nossa gincana. O senhor já tem garantidos, cem mil reais (falou este valor longamente assim: cemmmmm milllll reaaaaiss)
- Que gincana? Posso ganhar ainda mais prêmios (não me agüentava mais pra não rir)
- Claro seu João, mas, pra isso, o senhor tem que atingir nesta gincana 100 pontos, mas é facinho, facinho!
- Como assim? Ai Meu Deus! Será que eu consigo? Parece tanto... É de conhecimentos gerais?
Que nada meu bichinho! São pontos que o senhor vai conseguir através de cartões de recarga de três operadoras. Disse: A, B, C.
- Como? Não entendi!
- O senhor vai agora comprar cem reais em cartões de recarga, digita os números e se isso atingir 100 pontos vai ganhar além dos cem mil reais, uma casa, uma carro zero, uma moto, com a possibilidade de ganhar ainda muito mais.  – Parei. Eu não agüentava mais sem rir.
- Senhor Mauro!
- Fala seu João, me diga!
- Porque tu não vai comer merda?
- Não entendi seu João. (embaraçado)
- Merda. Vai comer merda!
- Não ouvi direito.
- Você pensa que acreditei em alguma coisa que me falou?
- Olhe, olhe, você pode perder até os cem mil reais que ganhou!
- De onde você está me ligando e tentando me dar este “171”? – perguntei.
- Como? Não entendi.
- Sei muito bem deste golpe!
- Eu vou ter que desligar (meio zangado).
- Não, não desligue agora você vai me ouvir safado!
- Seu João, o senhor quer saber? Vai pra p. que pariu e vai comer merda também! Tu.tu tu.tu... 
- Na verdade ele me disse muito mais coisas antes de desligar o telefone, mas, deixa para outra história.

O PESO DO SIM

Dulce Claudino

      - Sim ! Gritou com todo o ar que exalava dos pulmões.
      - Sim , consciente? Respondia o apresentador àquela voz estridente da loirinha de maçãs avermelhadas, que repetia: Sim. Sim . Sim
      - Você pensou bem no objeto que está adquirindo ? Foi presente de um anônimo , que deixou na sala de recepção para ser sorteado no programa. Ninguém verificou o seu conteúdo.
       - Mesmo assim eu quero. O pacote é lindo ! Todo revestido de estampa colorida e o laço de renda é um mimo , retrucava a loirinha frenética.
       - Pois bem, é todo seu, venha buscá-lo.
        A mocinha caminhando entre as cadeiras exibia o seu pacate que só abriria ao chegar em sua casa. Queria um momento só para ela e oseu presente.Olho grande por perto, nem pensar.
         Já em casa, sentada confotavelmente em seu sofá preferido, foi tranquilamente desenlaçando a renda, desembrulhando o pacote e a caixa estava aberta.
          Um grito de terror, misturado ao pedido de socorro fez com que toda a vizinhança invadisse a sala , onde , a loirinha petrificada apontava a caixa e o seu conteudo espalhado sobre o tapete.
         - Que loucura ! Por que tanto desespero? Comentou o velho Borba e acrescentou :
         - Eh! Loirinha ? São bichinhos de plástico : aranhas, lagartichas, taturanas, jacarezinho, até umas cobrinhas corais...
          Misturando o riso ao pranto a graciosa loirinha balbuciou.: - É o peso do SIM  desconhecido...
         - Frase espetacular,  disse Borba . Você entendeu " Como as aparências enganam ? ". 



O PESO DO SIM

Márcio José Rodrigues


Ela vivia sonhando acordada com uma reviravolta em sua existência sem graça. Não satisfeita com a boa vida e prestígio que desfrutava em sua cidadezinha de interior, a moça mais bonita do lugar, perdia dias e horas lendo revistas sobre artistas, preenchendo e enviando milhares formulários, ouvindo as músicas no rádio ou assistindo novelas, programas de auditório e reality shows. Delirava por muito mais, ser rica, famosa, aparecer na televisão.
Numa tarde de rotina, foi aos gritos que abriu um envelope de uma emissora de TV, dizendo da aprovação para participar em rede nacional no programa "DIGA SIM, DIGA NÃO".
A notícia correu como um corisco e num instantinho todo mundo sabia da sortuda e a carreira de superstar acabara de explodir ali mesmo em frente à sua casa; uma multidão querendo tocá-la, abraçá-la, rasgando-se por um autógrafo. O único que não gostara nadinha da história era o bonitão comandante da polícia local, Tenente Liones Genário Barreto, que sonhava sinceramente declarar-se e pedí-la um dia em casamento e com ela construir seu futuro, sua história. Mas, coitado embora ela o notasse e às vezes até sonhasse em estar em seus braços, ele era ainda pequeno para os suas ambições muito maiores.
E foi assim, com faixas e cartazes, o prefeito, as autoridades, banda de música, seu nome repetido aos gritos histéricos e até um cordão de isolamento providenciado pelo tenente em prantos, que ela acenou do helicóptero pousado no campinho de futebol, que a levaria ao aeroporto da cidade vizinha de onde partiria de jatinho para São Paulo. Seria o prenúncio de uma despedida e talvez ela nunca mais voltasse
No estúdio da emissora, as coisas eram bem menos glamorosas do que imaginara. Tudo era falso, de isopor, papel colorido e efeitos luminosos. O auditório repleto tinha algo de assustador. A boca secou em instantes, quando o apresentador anunciou próximo quadro. E agora, Brasil, o programa que está emocionando o país Tudo parecia falso. Um cartaz fora da vista das câmeras avisava: aplausos e gritos. A claque respondeu freneticamente com aplausos e gritos. Logo depois, a ordem era "silêncio" e a platéia obedeceu..
Fechada hermeticamente em uma cabine onde podia ver apenas uma tela de monitor com propagandas da emissora, tinha à frente de sua boca um microfone e em seus ouvidos, dois potentes fones de estúdio tocando em volume absurdo, músicas de cantores conhecidos.
O apresentador começou:
- E agora, senhorita Dulceline Regifátima, consegue me ouvir?
- Siiiiiim!
- Então vamos à primeira oferta! Basta responder sim ou não. Você quer este pente de plástico?
Ela não podia ouvir a pergunta, apenas a mensagem na tela: DIGA SIM, DIGA NÃO!
Aquilo era uma tortura, mas respondeu:
- Siiiiiim!
- E agora, quer trocar este pente de plástico por um refrigerador Trastemp , aço inox, frostfree?
-Siiiiiiim!
- Quer trocar este espetacular Trastemp por um automóvel BMW 0 km?
- Siiiiiiim!
- E agora, senhorita Regiline Dulcefátima, perdão, Dulceline Regifátima, é a hora da última pergunta. Quer trocar esta flamante BMW 0 km, ano 2011, no valor de quinhentos e cinqüenta mil reais, por esta galinha viva?
- O país inteiro berrava em frente aos aparelhos de TV, desesperadamente, não! não! A platéia estrebuchava, urrava, esperneava, mas ela não podia ver nem ouvir nada, apenas a voz de Natália Secco cantando "ler em teus lábios a palavra sim". Ela achou que aquilo fosse um sinal.
E gritou com todas as forças do peito:
- Siiiiiiiim!!!



Quando saiu da cabine, tonta, tropeçando nos altíssimos saltos acabou vendo a merda toda que havia feito com aquele sim. Sozinha no hotel, pensou em matar-se, a vergonha do retorno à cidadezinha, o vexame a gozação. Trancou-se em casa. Não queria atender a ninguém. Uma voz forte gritou lá fora, "CORREIO" e só assim ela abriu para receber uma caixa de papelão cheia de buracos redondos. Era a galinha, com os cumprimentos da emissora pela participação no programa. O carteiro malicioso saiu cantarolando có- ró-có-có , có-ró-có-có....
Ainda estava chorando, quando alguém muito insistente bateu repetidamente à porta.
Abriu!
O tenente estava ali, imponente em sua farda camuflada, a boina verde meio pendida, deixando ver o lado da cabeleira negra, os coturnos brilhando e a pistola automática no coldre pendendo do cinturão, completava a imagem de um super macho, encantado pelo fetiche da farda.
A galinha, desastradamente, ou não, apareceu andando pela sala. Dulceline queria morrer de novo, enfiar-se dentro da caixa de papelão, quando Liones Genário Barreto falou-lhe calmo, com um tom de ternura na voz:
- Você sabe cozinhar?
Ela não entendeu o propósito da pergunta, mas ele logo arrematou:
- Porque não prepara esta galinha e me convida para jantar?
Num impulso, ela jogou-se em seus braços e enlaçou-lhe o pescoço, em pranto.
- Quer casar comigo? - ele perguntou de chofre, como numa decisão militar.
Desta vez, entre soluços, ela viu pela primeira vez que toda a sua felicidade sempre estivera ali ao seu alcance, e respondeu baixinho e docemente:
-Sim!